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- Não, não creio que seja um símbolo, quer dizer que a criança está vestida de azul. - Já viu crianças vestidas de azul? - Certamente, no campo vêem-se muitas vezes as crianças de azul, e vestem-nas de azul até os 9 anos. (Surpreendido pelo que acabo de ouvir, lanço um olhar à senhora Raynaud, que está assentada atrás de mim, numa poltrona; ela faz-me um sinal, sem dizer palavra, de que é exato o que declara a vidente, e que é preciso deixá-la continuar.) - Então me explique por que esta criança está de azul. - Vejo-a agora maior. Está vestida como toda gente. Deixa cedo o seu torrão natal. Vai à cidade vizinha, sem dúvida, mas não fica aí; vejo-a, senhora. Ah! (a vidente espanta-se e continua) oh, quem entra aqui? (Ninguém entra na sala, foi meu irmão André quem fez ruído, mexendo-se.) - Não, alguém entrou com o senhor, é a senhora. - A senhora? Que senhora? Joana reencarnada? - Sim, é ela mesmo... ela está lá, vejo-a, ah, mas (e dirige-se à Sra. Raynaud); mas é possível, confunde-se com ela. - Que quer dizer? Você se ilude. - Não; asseguro-o: fazem-me compreender que Joana e a Sra. Raynaud são a mesma pessoa. - Como, a mesma pessoa? - Perfeitamente. Não o sabe? Eu o compreendo agora. Diga-me, a Sra. Raynaud não nasceu perto de Amiens? Então, é isto. 2 bem dela que se trata. A senhora não se vestia de azul quando era pequena? - Sim, sim - responde a Sra. Raynaud. Estando a paciente fatigada, suspendo á sessão. CURIOSAS DECLARAÇÕES As sessões de 28 de maio e de 4 de junho foram muito curiosas: A Sra. d'Elphes, sem nada conhecer da história da Sra. Raynaud, fizera interessante descrição dos lugares que ela teria habitado. Em seguida, indicou a existência, nesses lugares, duma Sra. Joana, que correspondia aos sinais dados pela Sra. Raynaud. Revelava-nos, em seguida, que Joana fora enterrada numa igreja. A 11 de junho, a Sra. d'Elphes nos diz que Joana reencarnara em uma aldeia, perto de Amiens, fez descrição da casa natal, afirmou que Joana, criança, vestia-se de azul e acabou por declarar: Joana reencarnada é a Sra. Raynaud. Comentemos, agora, esta última sessão. A vidente assegura-nos que Joana reencarnou perto de Amiens, em uma aldeiazinha. Ora, a Sra. Raynaud nasceu em Aumont, a 25 quilômetros de Amiens; ela não podia conhecer esse pormenor. Quanto à descrição da casa natal, a paciente disse coisas que correspondem à casa em que nasceu a Sra. Raynaud, do que me assegurei, indo a Aumont. A casa, com efeito, tem modesto aspecto. Entra-se, desde logo, na sala principal, e percebe-se outra à direita, mas a escada assinalada pela vidente não existe; só há um degrau na porta, em lugar de dois ou três. Consultando a mãe da Sra. Raynaud, soube o doutor que Laura fora consagrada ao azul, em seguida a uma novena que coincidira com seu restabelecimento. A crítica do Dr. Gaston Durville, após a narrativa do caso de Laura Raynaud, não me parece suficiente para suprimir por completo a hipótese de uma sua vida anterior. Com efeito, não é possível recusar o testemunho da mãe de Laura, quando ela afirma que sua filha falava ao cura de uma existência passada. Verificamos já que certas crianças têm a intuição de haver vivido anteriormente, e veremos que há outras que conservam indiscutíveis lembranças de suas vidas anteriores. A objeção de que uma criança, ignorante poderia formular tão complicado pensamento não é muito válida. E possível que, ouvindo dizer que ela tinha um tipo meridional, Laura se imaginasse nascida outrora em uma região do Meio-Dia, sob o belo céu azul da Itália. Poderia ser, ainda, e é a objeção mais séria, que, durante o sono, tivesse, por clarividência, visitado o país dos seus sonhos, e que, acidentalmente, parasse nos arredores de Gênova, diante da casa de que deu, antes de tê-la visto, tão exata descrição. Isto seria já um curioso caso de lucidez, mas esta hipótese está longe de explicar todas as circunstâncias. Não explica, com efeito, o conhecimento de que uma senhora, do começo do século XIX, tivesse morrido de doença do peito, nessa casa, nem que fosse inumada em uma igreja, nem a certeza que tinha Laura, em sua infância, de haver vívido anteriormente. Parece, pois, ressaltar, do exame dos fatos, que a hipótese mais provável, porque é a que melhor explica todos os incidentes desse caso notável, é a preexistência de Laura Raynaud. O Dr. Gaston Durville não lhe é sistematicamente hostil, pois que declara, ao terminar seu estudo: - Agora, trata-se de um caso de reencarnação? Confesso que nada sei, mas acho que a hipótese reencarnacionistas não é, neste caso, mais absurda que qualquer outra. A ilusão, a auto-sugestão, a lucidez e a vidência não justificam tudo. Podem, talvez, explicar muitas coisas. Há lugar para outras hipóteses, a reencarnação, é do número delas. Sim, meu caro doutor, aqui é, indiscutivelmente, a melhor de todas. CAPITULO XI OUTROS FATOS QUE IMPLICAM A LEMBRANÇA DE VIDAS ANTERIORES Grandes homens que se lembram de ter vivido anteriormente. -Juliano, o Apóstata. - Empédocles. - Lamartine. - Ponson du Terrail. - O padre Graty. - Méry. - Professor Damiani. - O caso de Nellie Foster. - Conhecimentos inatos de um país estrangeiro. - O caso de Rangoon de Maung Kan. - Casos extraídos do inquérito do Dr. Calderone, relativos a reencarnações na índia. - Inquérito confirmativo do Dr. Moutin. - O Professor Tumolo. - O caso Tucker. - Do Messager de Liège. - Blanche Courtain. - O caso de Havana. - Esplugas Cabrera. - Resumo. Vou reproduzir os fatos que reuni em minha memória sobre as vidas sucessivas, apresentadas ao Congresso de Londres, em 1898. Fa-los-ei seguir das reflexões que aduzi depois. Juliano, o Apóstata, lembrava-se de ter sido Alexandre da Macedônia. Contava Empédocles que ele se lembrava de ter sido rapaz e moça. Como nada sabemos das circunstâncias que poderiam determinar essas afirmativas, passaremos aos escritores de nossos dias que relatam fatos da mesma ordem. Entre os modernos, o grande poeta Lamartine declara, em sua Viagem ao Oriente, ter tido reminiscências muito claras. Eis o seu testemunho: Não tinha na Judéia nem Bíblia, nem livro de viagens, nem ninguém que me pudesse dar o nome dos lugares, a denominação antiga dos vales e das montanhas; reconheci, entretanto, desde logo, o vale de Terebinto e o campo de batalha de Saul. Quando fomos ao convento, os padres confirmaram a exatidão de minhas previsões; meus companheiros não podiam acreditar. Em Sephora, designei com o dedo e dei o nome de uma colina, no alto da qual havia um castelo arruinado, como o lugar provável do nascimento da Virgem. No dia seguinte, ao pé de árida montanha, reconheci o túmulo dos Macabeus, e dizia a verdade sem o saber. Exceto o vale do Líbano, nunca encontrei na Judéia um lugar ou qualquer coisa que não fosse para mim como uma recordação. Já vivemos, pois, duas vezes, mil vezes? Não será nossa memória uma imagem desbotada, que o sopro de Deus reaviva? Estas reminiscências não podem ser devidas a lembranças provenientes de leituras, porque a Bíblia não dá a descrição exata das paisagens onde se passaram as cenas históricas; relata, simplesmente, os acontecimentos. Podem-se atribuir essas Intuições, claras e precisas, a uma clarividência durante o sono? Não está de forma alguma demonstrado que Lamartine fosse sonâmbulo, mas, admitida essa hipótese, como poderia ele conhecer os nomes exatos de cada um daqueles lugares? Se são Espíritos que os indicam, por que só se lembra o sensitivo das paisagens e nunca dos seus Instrutores Invisíveis? Não é preciso fazer intervirem os Espíritos, quando sua presença não for demonstrada. No jornal La Presse, de 20 de setembro de 1868, um romancista popular, Ponson du Terrail, aliás inimigo do Espiritismo, escrevia que se lembrava de ter vivido ao tempo de Henrique III e Henrique IV, e, nessa revivescência, o rei em nada parecia com o que dele diziam seus país. Poderia lembrar, também, que Théophile Clauthier e Alexandre Dumas afirmaram, por diferentes vezes, sua crença nas vidas sucessivas, baseada em lembranças intimas (80). Prefiro,porém, as narrativas que trazem consigo as provas de autenticidade. Devo à gentileza de Edmond Bernus o informe seguinte relativo ao Père Graty. Assim, escreve ele em Souvenirs de ma jeunesse (81) Eu acabava de começar os estudos de latim. Não esquecerei nunca que, em uma noite, num instante, o senso do gênio latino me foi dado. Refletindo em uma frase latina, compreendi, repentinamente, o espírito dessa língua. E, de fato, meus progressos foram singulares. Aprendi o latim de dentro para fora; parece-me que o tirava do fundo do meu espirito, onde ele estava inoculado. Durante muitos anos, pensei em latim. Cheguei a sonhar em latim, a fazer em sonhos discursos em versos latinos, de que me lembrava ao acordar, e que eram corretos. Exprimia nessa língua, mais facilmente e mais claramente do que em francês, meus menores pensamentos. Nota Bernus que Graty não conhecia as idéias reencarnacionistas, o que dá muito valor a esse trabalho de suas memórias. Eis outro caso em que a reminiscência se produz pelo uso da língua latina. Em um artigo bibliográfico sobre Méry, editado quando ele ainda vivo, no Journal Littéraire de 25 de setembro de 1864, o autor afirma que aquele escritor acreditava firmemente ter já vivido muitas vezes; que se lembrava das menores circunstâncias de suas existências precedentes e as pormenorizava com uma certeza, que impunha a convicção. Assim, diz o biógrafo, ele afirma ter feito a guerra das Gálias e haver combatido na Germânia com Germânicos. Reconheceu, muitas vezes, sítios onde acampou, e certos vales dos campos de batalha em que outrora pelejara. Chamava-se, então, Minius. Há um episódio que parece estabelecer não serem estas lembranças simples miragens de sua imaginação. Cito textualmente: Um dia, em sua vida presente, estava em Roma, e visitava a biblioteca do Vaticano. Foi recebido por dois jovens, noviços de longas vestes escuras, que se puseram a falar-lhe no mais puro latim. Méry era bom latinista, no que se refere à teoria e às coisas escritas, mas não experimentara, ainda, conversar familiarmente na língua de Juvenal. Ouvindo esses romanos de hoje, admirando o magnífico idioma tão bem harmonizado com os monumentos, com os costumes da época em que estivera em uso, dir-se-ia que um véu lhe caía dos olhos; que ele mesmo havia conversado, em outros tempos, com amigos que se serviam dessa linguagem divina. Frases inteiramente feitas e irreprocháveis caiam-lhe dos lábios; achou, desde logo, a elegância e a correção; enfim, falou o latim, como fala o francês. Tudo isso não se podia fazer sem uma aprendizagem, e se ele não tivesse sido um súdito de Augusto, se não houvesse atravessado esse século de esplendor, não improvisaria uma ciência impossível de adquirir em. algumas horas. O autor tem razão. É preciso distinguir com cuidado o fato das hiperestesias da memória, muitas vezes observado no sonambulismo, e na doença. Naqueles estados especiais, o paciente repete, por vezes, tiradas inteiras, ouvidas outrora no teatro ou lidas antigamente e profundamente esquecidas em estado normal. Mas, uma palestra sustentada em língua desusada, sem hesitações, sem pesquisas, gozando o indivíduo de todas as suas faculdades, supõe, evidentemente, para a pronúncia e para a tradução, o funcionamento de um mecanismo, muito tempo inativo, mas que se revela no momento propício. Não se improvisa uma linguagem, ainda mesmo que dela se conheçam as palavras e as regras gramaticais. Fica a parte mais difícil: a do enunciado das idéias, que depende dos músculos da laringe e das localizações cerebrais e que não pode adquirir-se senão pelo hábito. Se a esta ressurreição mnemônica se juntam as lembranças precisas de lugares, outrora habitados, há fortes presunções para se admitirem as vidas múltiplas como a mais lógica explicação desses fenômenos. Eles são, aliás, menos raros do que se tem querido pretender. Vou ainda citar alguns exemplos tomados à coleção da Revue Spirite. Um espiritista da primeira hora, o Prof. Damianí, dirigiu, a 1.0 de novembro de 1878, ao editor de Banner of Light de Boston, uma carta em resposta, a certas polêmicas sobre a reencarnação. Extraio a passagem seguinte: Que me seja permitido dizer porque penso não ter sido enganado em minhas visões espirituais. Antes de ser reencarnacionista, e quando era oposto a essas teorias, diferentes médiuns, que não se conhecem, falaram de minhas reencarnações. Ri muito e qualificava como histórias essas revelações. Mas, escoados muitos anos, quando já as havia esquecido, adquiri o dom da visão espiritual e me vi a mim no meio das famílias de minhas existências passadas, vestido com as roupas do tempo e dos povos que os videntes me haviam descrito. Oh! para mim, ver devia ser acreditar. Esta declaração me pareceu probante, pois que emana de observador incrédulo, que só se convenceu depois de observação pessoal. Que causas poderiam produzir as afirmações concordantes de médiuns que se não conheciam? Se as vidas anteriores deixam traços em nós, se é possível a certas pessoas lerem essas inscrições hieroglíficas, essas ruínas veneráveis, escritas em uma língua, que só a faculdade psicométrica permite decifrar, as descrições dos videntes devem ser semelhantes, pois se apóiam em documentos positivos. Dai, provavelmente, essa unanimidade, que o Prof. Damiani verificou, quando os dons se desenvolveram nele. A Revue Spirite . de 1860, pág. 206, transcreveu a carta de um oficial de Marinha, que se lembra de ter vivido e ter sido assassinado na época de S. Bartolomeu. As circunstâncias dessas existências ficaram gravadas profundamente em seu ser, e ele narra fatos que mostram não serem essas reminiscências devidas a um capricho do seu espírito. Dizia-vos, escreve ele, que tinha 7 anos quando sonhei que, fugindo, fui atingido em plenas costas por três punhaladas! Se vos dissesse que a saudação que se faz, em armas, antes de nos batermos, eu a fiz pela primeira vez, quando tive um florete na mão! Se vos dissesse que os preliminares, mais ou menos graciosos que a Civilização pós na arte de matar, me eram conhecidos, antes de qualquer educação nas armas!... Essa ciência instintiva, anterior a qualquer preparo, deve ser adquirida em alguma parte. Onde, se só se vive uma vez? Refere o Sr. Lagrange, em carta dirigida à Revue Spíríte (ano 1880, pág. 361), que conhece, em Vera Cruz, uma criança de 7 anos, chamada Jules-Alphonse, que cura com a imposição de suas mãozinhas, ou com o auxilio de remédios vegetais, de que dá as receitas. Quando se lhe pergunta onde as houve, responde que ao tempo em que era médico. Essa faculdade extraordinária. revelou-se aos 4 anos, e muitas pessoas cépticas declararam-se, em seguida, convencidas. Pode-se pretender que a criança é simplesmente médium; com efeito, ela ouve os Espíritos, mas sabe perfeitamente distinguir o que se lhe revela do que tira do seu íntimo - essa convicção de que era médico. Tal idéia não lhe foi inculcada pelos Guias, é inata. Bouveri cita em Lotus Bleu o caso de Isac Foster, cuja filha Maria morreu em III no Condado de Effigam. Ele teve, alguns anos mais tarde, uma segunda filha, que nasceu em Dakota, cidade em que veio habitar depois da morte de Maria. A nova filha chamou-se Nellie, mas persistia, obstinadamente, em dizer-se Maria, declarando que esse era o verdadeiro nome pelo qual lhe chamavam outrora. |