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Jesus não estranha semelhante pergunta, e sem os desenganar, como parece que o faria se estivessem em erro, contentou-se em responder-lhes: No Evangelho de S. João, um senador judeu, o fariseu Nicodemos, pede a Jesus explicações sobre o dogma da vida futura. Jesus responde: Em verdade, em verdade vos digo, ninguém verá o reino de Deus, sem nascer de novo. Nicodemos, perturbado por esta resposta, porque a tomou em seu sentido material, indagou: Como pode um homem nascer sendo velho? Pode, porventura, entrar no seio de sua mãe e nascer segunda vez? Jesus respondeu: Em verdade, em verdade vos digo, que se alguém não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus; não vos maravilheis de vos dizer que é necessário nascer de novo; o espírito sopra onde quer e ouvis sua voz, mas não sabeis de onde vem nem para onde vai. - Como pode ser isto? Jesus respondeu: Como? Sois mestres em Israel e ignorais estas coisas?. Esta última observação do Cristo mostra bem que ele se surpreendeu não conhecesse um mestre em Israel a reencarnação, porque era ela ensinada como doutrina secreta aos intelectuais da época. Uma das provas que se pode apresentar é a de que existiam ensinos ocultos ao comum dos homens, e que foram compilados nas diferentes obras que constituem a Cabala. No ensino secreto, reservado aos iniciados, proclamava-se à imortalidade da alma, as vidas sucessivas e a pluralidade dos mundos habitados. Encontram-se estas doutrinas no Zohar (4), redigido por Simão Ben Yochai, provavelmente no ano 121 de nossa era, mas conhecido na Europa somente em fins do século terceiro. Por outra parte, a transmigração das almas, a acreditarmos em S. Jerônimo, foi ensinada por muito tempo como uma verdade esotérica e tradicional, que só devia ser confiada a pequeno número de eleitos. Orígenes admitia a preexistência da alma como uma necessidade lógica, na explicação de certas passagens da Bíblia, sem o que, dizia ele, poder-se-ia acusar Deus de iniqüidade. Essas concepções, posto que repelidas pelos concílios, foram conservadas, mesmo no clero, por espíritos independentes, tal como o Cardeal Nicolas de Cusa, e, entre os filósofos, pelos adeptos das ciências secretas, que transmitiam uns aos outros essas tradições, sob a chancela do sigilo. Os romanos Entre os romanos, que receberam a maior parte dos seus conhecimentos da Grécia, Virgílio exprime claramente a idéia da Palingenesia nestes termos: Todas essas almas, depois de haverem, durante milhares de anos, girado em torno dessa existência (no Elísio ou no Tártaro), são chamadas por Deus, em grandes enxames, para o rio Letes, a fim de que, privadas da lembrança, revejam os lugares superiores e convexos, e comecem a querer voltar ao corpo.. Diz também Ovídio que sua alma, quando for pura, Irá habitar os astros que povoam o firmamento, o que estende a Palingenesia até os outros mundos semeados no espaço. Druidismo Os gauleses, nossos antepassados, praticavam a religião dos druidas, acreditavam na unidade de Deus e nas vidas sucessivas. Diz César (5) Uma crença que eles procuram sempre estabelecer é a de que as almas não perecem e que, depois da morte, passam de um corpo para outro. Ammien Marcellin (6) relata que, em conformidade com a opinião de Pitágoras, eles afirmavam que as almas são Imortais e que devem animar outros corpos. Assim, quando queimavam seus mortos, lançavam na fogueira cartas que dirigiam aos parentes ou amigos dos defuntos, como se estes as devessem receber e ler. Os druidas ensinavam que há três ciclos: 1- o de Ceugant, que só pertence a Deus; 2- o de Gwynfid, ou morada da felicidade; e 3-o de Abred, ou ciclo das viagens, ao qual pertenciam nossa Terra e os outros planetas. A Terra era um lugar de passagem para mundos superiores. A idéia de preexistência, e não de metempsicose, é nitidamente formulada pelo bardo Taliésin, quando diz: Fui víbora no lago, cobra mosqueada na montanha; fui estrela, fui sacerdote. Desde que fui pastor, escoou-se muito tempo; dormi em cem mundos, agitei-me em cem círculos. Idade Média Durante todo o período da Idade Média, a doutrina palingenesia ficou velada, porque era severamente proscrita pela Igreja, então todo-poderosa; este ensino esteve confirmado nas sociedades secretas ou se transmitiu, oralmente, entre iniciados que se ocupavam com ciências ocultas. Tempos modernos Foi preciso chegar aos tempos modernos e à liberdade de pensar e de discutir publicamente, para que a verdade das vidas sucessivas pudesse renascer à grande luz da publicidade. Um dos mais eminentes filósofos do século, Leibniz, estudando o problema da origem da alma, julga que o princípio inteligente, sob forma de mônada, pôde desenvolver-se na seqüência animal. Dupont de Nemours, profundo pensador do século XVIII, admite, só pela força do raciocínio, como Charles Bonnet, que a alma, desprendida do corpo, está sempre unida a uma forma espiritual, que lhe permite conservar a individualidade, e que, depois de uma estação no Espaço, volta a Terra para aí se aperfeiçoar, adquirindo moralidade, cada vez mais elevada. Dupont de Nemours, como Leibniz, supõe que o princípio inteligente passou por todos os organismos vivos antes de chegar à Humanidade. Escreve o filósofo Lessing: Quem impede que cada homem tenha existido muitas vezes no mundo? É esta hipótese ridícula por ser a mais antiga? Por que não teria eu, no mundo, dado todos os passos sucessivos para meu aperfeiçoamento, os quais, só por si, podem constituir, para o homem, penas e recompensas temporais? Pode-se citar Ballanche, Schlegel, Saint-Martin, que exprimem, cada um a seu modo, idéias aproximadas das de Dupont de Nemours, a respeito da Palingenesia. Constante Savy, que vivia no começo do século XIX, não admite o inferno eterno, porque esse castigo seria uma vingança cega e implacável, pois que puniria, com uma eternidade de suplícios, as faltas de uma vida, a qual, por mais longa que seja, não passa de alguns instantes em relação à eternidade. Crê na teoria das vidas sucessivas, porque, diz ele, a imortalidade do homem consiste em uma vida progressiva; prepara a vida em que entra por aquela que deixou; enfim, desde que há dois mundos, necessariamente um material e outro intelectual, esses dois mundos, que compõem a vida futura, devem ter relações harmônicas com a nossa. Progredindo, o homem fará progredir o mundo. Os filósofos da escola espiritualista, tais como Pierre Leroux e Fourier, admitiram a pluralidade das existências da alma. Fourier, porém, com seu espírito sistemático e aventureiro, imagina períodos entremeados de vidas humanas e extraterrestres. Assim, teria ele tido, precisamente, 810 existências, divididas em cinco períodos de desigual duração, e que abraçaram uma extensão de oitenta mil anos. Afirma Esquiros que cada um de nós é o autor e por assim dizer o obreiro de seus destinos futuros. Os seres ignorantes ou aviltados, que não souberam fazer a alma desabrochar, entram no seio de uma mulher para ai se revestir de novo corpo e preencher nova existência terrestre. Esta reencarnação se faz em virtude de uma grande lei de equilíbrio, que leva todos os seres ao castigo ou à recompensa de suas obras. Os renascimentos na Terra são limitados, e a alma depurada vai habitar mundos superiores. Em seu belo livro Terra e Céu (Terre et Ciel), Jean Reynaud expõe, admiravelmente, a necessidade das vidas sucessivas, que, a principio, se desenvolvem na Terra e, em seguida, em outros mundos espalhados no Infinito. Apesar da ausência da memória de nossas vidas passadas, trazemos sempre em nós o princípio do que seremos mais tarde, e subiremos sempre. Ele crê que na vida perfeita recobraremos a memória integral de todo o nosso passado, e será para nós grandioso espetáculo, porque abraçará todo o curso de nossos conhecimentos terrestres. Nascer, pois, não é começar, é tão-só mudar de figura. Teve por discípulos Peletan e Henri Martin. Admite-se, como já acreditavam os druidas, que a evolução ascendente da alma se realiza no infinito do Cosmos, a pluralidade dos mundos habitados torna-se um corolário lógico da pluralidade das existências. Foi o que pôs em foco meu eminente amigo Camille Flammarion, em meados do último século. Resumindo seu pensamento, eis o que ele diz: Se o mundo intelectual e o mundo físico formam uma unidade absoluta, e o conjunto das Humanidades siderais forma uma série progressiva de seres pensantes, desde as inteligências rudimentares, apenas saldas das faixas da matéria, até as divinas potências que podem contemplar Deus em sua glória e compreender-lhe as obras mais sublimes, tudo se explica, tudo se harmoniza; a Humanidade terrestre encontra-se nos graus inferiores desta vasta hierarquia, e a unidade do plano divino está estabelecida. Foi em 1857 que Allan Kardec publicou O Livro dos Espíritos, no qual expõe todas as razões filosóficas que o conduziram à admissão da teoria das vidas sucessivas, e é a ele, principalmente, que se deve a propagação dessa grande verdade nos países de língua latina. Voltarei mais tarde aos poderosos argumentos que ele reuniu e que arrastam à convicção todo espírito imparcial. É bom notar que a doutrina das vidas sucessivas foi vulgarizada no último século, entre o grande público, por vários romancistas, tais como Balzac, Théophile Gautier, George Sand, assim como pelo grande poeta Victor Hugo. O inquérito de Calderone Um inquérito instituído por Calderone (7), diretor da revista Filosofia da Ciência (Filosofia della Scienza), em 1915, provou que muitos pensadores e filósofos adotaram a magnífica teoria palingenésica. O Dr. Maxwell, autor do livro O Fenômeno Psíquico (Le Phénomène Psychique), declara: Quanto a mim, parece-me muito aceitável a hipótese da reencarnação. Ela explica a evolução e a hereditariedade. Ela é moralizadora. É uma fonte de energia e, ao mesmo tempo, auxilia o desenvolvimento das sociedades pelo sentimento que impõe de uma hierarquia necessária. Maxwell, porém, não acredita que a reencarnação se possa demonstrar cientificamente. Tentarei provar o contrário no correr deste volume. O Dr. Moutin admite a possibilidade das vidas sucessivas, mas as concebe em outras terras do céu, em vez de se confinarem à Terra. De Rochas crê na evolução do ser humano e reconhece, lealmente, que suas experiências, com pacientes magnéticos, em quem provocava a regressão da memória até às vidas anteriores, não deram resultados positivos. Acredita, entretanto, no princípio das vidas sucessivas, assim como admite, pelo raciocínio, a existência de Deus. O Dr. Geley é nitidamente afirmativo, e escreve: Sabes, meu caro amigo, que sou reencarnacionista e isto por três razões: porque a doutrina palingenésica me parece, no ponto de vista moral, perfeitamente satisfatória; no ponto de vista filosófico, absolutamente racional; no ponto de vista cientifico, verossímil, ou melhor, provavelmente verdadeira. Lancelin, na resposta ao inquérito, afirma sua crença na reencarnação, porque considera que a subconsciência é a resultante de todas as nossas consciências anteriores. Leon Denis responde, é bem de ver, afirmativamente, tanto mais quanto obteve, diz ele, por médiuns desconhecidos uns dos outros, pormenores concordantes sobre suas vidas anteriores. Ele crê, por introspecção, na realidade dessas revelações, visto que elas são conformes ao estudo analítico de seu caráter e de sua natureza psíquica. Na Itália, o Prof. Tummolo é um ardente defensor da idéia reencarnacionista. Carreras admite que já se obteve um começo de provas científicas. De Vesme, diretor dos Annales des Sciences Psychiques, acha-se indeciso, mas tende a supor que chegaremos, um dia, a instituir experiências que nos permitirão penetrar o mistério de nossas existências. Ao estabelecimento desse começo de demonstração científica é que é consagrado este livro, e tenho esperança de que ele não será inútil à constituição da futura ciência concernente à alma humana. Assistimos, há alguns anos, à vulgarização da crença nas vidas sucessivas, por meio do romance. Assim é que vimos aparecer, quase seguidamente, A Cidade do Silêncio (Lã Ville du Silence) de Paul Bodier; Reencarnado (Reincarné) do Dr. Lucien Graux; O Filho de Marousia (Le Fils de Marousia) de Gobron; Um morto vivia entre nós (Un mort vivaít parmi nous), de Jean Gaimot, e outros ainda que apresentam aquela doutrina por meio de ficções mais ou menos verossímeis. A Palingenesia tem, por vezes, inspirado poetas, tais como Théophile Gautier, Gerard de Nerval e Jean Lahore. Deste poeta, transcrevemos os seguintes versos: Comme au fond des forêts et des chastes fontaines Tremble un pdle rayon de Zune enseveli, Ami, le souvenir d'existences fontaines Frissonne dans mon coeur sous les flots de l'oubli. Je sens un monde en moí de confuses pensées, Je sens obscurément que j'ai vécu toujours, Que j'ai longtemps erré dans les foréts passés Et que Ia bête encor garde en moí des amours. Je sens confusément, l'hiver, quand le soir tombe, Que jadis, animal ou plante, j'ai souffert, Lorsque Adonis saignant dormait pdle en sa tombe, Et mon coeur reverdit quand tout redevient vert. Quand mon esprit aspire d Ia pure lumière, Je sens tout icn passé que le tient enchainé; Je sens couler en moí b'obscurité première, La terre était si sombre aux temps oìi je suis né. Mon dme a trop dormi dans Ia nuit maternelle; Pour monter vers le jour, qu'il me fallut d'efforts! Je voudrais être pur: Ia honte originelle, Le vieux sang de Ia béte est resté dans mon corps! Por mais interessantes e demonstrativos que sejam os arrazoados filosóficos que acabamos de expor, é preciso dar-lhes, necessariamente, a consagração científica da observação e da experiência para que possamos fazer passar para o domínio científico a grande lei das vidas sucessivas. Vou, pois, em primeiro lugar, expor os fatos que demonstram, irrefutavelmente, a existência da alma, sua verdadeira natureza, tão diferente do que as religiões e as filosofias nos haviam ensinado a este respeito. CAPITULO II AS BASES CIENTIFICAS DA REENCARNAÇAO. - AS PROPRIEDADES DO PERISPIRITO O Espiritismo demonstra cientificamente a existência da alma e do perispírito. - Este é inseparável do principio pensante. - Demonstração desta grande verdade pelo estudo das manifestações da alma durante a vida e depois da morte. - O perispírito é a idéia diretriz pela qual é construído o corpo humano. - Ele entretém e repara o organismo. - Ele não pode ser um produto da matéria. - Ele leva consigo para o espaço essa faculdade organizadora que lhe seria inútil se não devesse voltar a Terra. - Onde pôde adquirir essas propriedades? - Na Terra, evidentemente. - E lógico admitir que ele passou pela escala animal. O grande mérito dos magnetizadores espiritualistas e dos espiritistas é o de haver tentado fazer com que o estudo da alma humana passasse do domínio da Psicologia propriamente dita para o da observação científica, pela verificação das manifestações objetivas do ser pensante. Durante todo o século XIX, a filosofia oficial encantonou-se no domínio da introspecção, esquecendo, sistematicamente, os numerosos e interessantes fatos das ações extra-sensoriais do ser humano. Graças, porém, à Sociedade Inglesa de Pesquisas Psíquicas foi estabelecido, agora, que a telepatia é uma realidade indiscutível, que a clarividência, quer durante o sono, quer em estado de vigília, é bem real, e, enfim, que a previsão do futuro foi muitas vezes averiguada. |