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Não há fugir; os fatos, quando os analisamos minuciosamente, põem-nos em presença de seres póstumos, que têm um corpo psíquico, pois que este age sobre a matéria; mas, era preciso examinar de mais perto esses fantasmas, para conhecer-lhes a natureza, porque as operações naturais são fugazes ou se produzem em circunstâncias tão comovedoras para as testemunhas, que é difícil a estas conservar uns sangues-frios suficientes, que lhes permita notar com cuidado todas as particularidades do fenômeno. Aparições provocadas Os espiritistas foram os primeiros a organizar sessões experimentais, em determinados lugares, e em dias escolhidos; para observar com êxito as aparições, rodearam-se das necessárias precauções. Desde que se soube que os médiuns podiam servir para as materializações, organizou-se um amplo inquérito, o qual se tornou frutuosa, por mais de um título. Não imaginemos que as aparições provocadas foram aceitas, desde logo, pelos experimentadores. Mesmo entre os espiritistas, furiosas polêmicas se levantaram. Todas as suposições, que ainda hoje se nos opõem, foram emitidas: seria crível que um Espírito, ou seja, um ser de essência imaterial, pudesse revestir um grosseiro corpo carnal? Tê-lo-iam apalpados? Por que se apresenta ele com roupas, e, por vezes, que horror!, com sobrecasaca e chapéu alto, de forma? Não é isso a prova de que os assistentes estavam alucinados ou vergonhosamente enganados por impostores? Tais objeções e muitas outras não fizeram parar os pesquisadores. As precauções tomadas contra a fraude foram inumeráveis. Ora o médium era atado à sua cadeira, estando esta fixada ao chão; as pontas da corda ficavam fora do gabinete e eram seguras por um assistente; ora metiam o paciente num saco, que lhe amarravam cuidadosamente em torno do pescoço, por meio de cordas, cheias de nós, e estes devidamente lacrados; ora, ainda, fechavam o médium numa gaiola; e, apesar de tudo, as aparições zombavam das peias com que acreditavam retê-las. Com Florente Cook chegou-se, mesmo, a lhe pregarem os cabelos ao assoalho. Percebeu-se, finalmente, que essas medidas eram absolutamente inúteis com vários médiuns; os seres mostravam-se e desapareciam diante dos assistentes ou se lhes derretiam sob os olhos, e tinham o poder bastante para vencer as precauções, porque, muitas vezes, desprendiam os médiuns dos seus laços, sem lhes desfazer os nós, e sem que fosse possível compreender como operavam. (20) Os que quiserem dar-se ao trabalho de compulsar os ricos Anais do Espiritismo, poderão convencer-se de que, sob outros nomes, todas as hipóteses e teorias atuais foram discutidas pelos primeiros pesquisadores. Recorreram, a princípio, à imaginação sonambúlica do médium, atribuindo-se-lhe criações temporárias, que se mostravam aos assistentes. Seria uma sugestão que o paciente faria experimentar àqueles a quem uma longa expectativa e a obscuridade predispunha a essas alucinações. Hartmann não teve a prioridade da invenção. Tornou-se preciso modificar essa hipótese, quando se verificou, com segurança, que os fantasmas eram objetivos. Pretenderam, então, que tudo se esclareceria pela exteriorização do duplo e suas transfigurações. O médium captava na subconsciência dos assistentes os tipos sobre os quais modelava seu corpo fluídico, para lhes dar a aparência de um ou muitos mortos conhecidos de algum dos presentes. Neste ponto é que ainda estão os sábios modernos, que não estudaram suficientemente o assunto; haja vista o Prof. Richet que, em seu Tratado de Metapsíquica, batiza o fantasma com o nome de ectoplasma, e este não seria mais que um fenômeno de ideoplastia da matéria exteriorizada pelo médium. O esopsiquismo, a ideoplastia, o psicodinamismo, o panpsiquismo, etc., não passam de expressões diversas para significar a mesma coisa. Apesar do engenho dessa acrobacia intelectual, tais teorias estão muito longe de bastar à explicação de todos os casos. Sucede que a aparição se exprime ou escreve em idioma desconhecido do médium e dos assistentes, e eis o esopsiquismo nágua. Em outras circunstâncias, são dois, três, quatro fantasmas que falam e se agitam ao mesmo tempo, ou fazem um concerto, em que cada qual tem a sua parte, e lá se vai a ideoplastia, a menos que a dotemos com um poder miraculoso. Enfim, certas identidades vêm estabelecer irresistivelmente a independência da aparição, como acontece no caso das aparições espontâneas. Que a ciência oficial caminhe com a mais extrema circunspeção nessas regiões, ainda tão pouco exploradas, nada mais justo; é de seu dever nada aventurar, e esgotar as possibilidades naturais, ou como tal pretendidas, antes de admitir causa tão imprevista. Mas os seus representantes têm o mau hábito de se pronunciarem muito categoricamente, antes de possuir uma experiência probante. Nós, os espíritas, que os precedemos de muito, têm o direito, apoiando-nos em nosso passado, de espantar-nos com a jactância deles, de lhes reprovar o ignorarem os resultados anteriormente adquiridos, de lhes dizer que suas interpretações são erradas, o que acabarão por verificar, quando tiverem experimentado por mais tempo. Sei bem que o progresso só se faz por degraus, que é necessário tempo para que a opinião pública se acostume às novidades; assim, é sem impaciência que espero a vinda de novos médiuns, com os quais se poderão continuar esses notáveis descobrimentos. Desde que os fenômenos são reais e que se verificam já um tanto por toda parte, é certo que se reproduzirão, e então triunfaremos, porque a verdade acaba sempre por impor-se. É o que se dá, atualmente, como iremos ver. Voltando ao objeto do presente estudo, notou-se pela fotografia dos fantasmas - os de Crookes, Aksakof, Boutlerow, etc. -, que eles têm formas reais; que durante a materialização possuem todos os caracteres dos seres vivos, como o talhe, o volume do corpo e outros; os membros, braços ou pernas, são idênticos aos nossos. Eles andam, falam, escrevem. Quando se lhes toma uma das mãos, esta produz a impressão de mão humana comum. Não era isto, ainda, suficiente para o estudo das diferenças que existem entre o médium e a aparição. Era preciso que esta possa ser vista, muitas vezes, e em boas condições, para que se notassem as particularidades que fazem dela uma individualidade distinta da do médium. As experiências de Crookes, para só tomar um exemplo autêntico, respondem a essas exigências. Lembro as próprias palavras do célebre sábio, que operava em sua casa, com todas as portas fechadas. (21) Antes de terminar este artigo, desejo fazer conhecer algumas diferenças que observei entre a Srta. Cook e Katz. A estatura de Katie é variável; vi-a, em minha casa, com mais seis polegadas que a Srta. Cook. Ontem, à noite, estando com os pés nus, tinha mais quatro polegadas e meia que a Srta, Cook. Katie estava com o colo descoberto; a sua pele era perfeitamente doce ao toque e à vista, enquanto que a Srta. Cook possui no pescoço uma cicatriz que, em idênticas circunstâncias, se vê distintamente e é áspera ao contacto. As orelhas de Katie não são furadas, enquanto a Srta. Cook usa brincos. A cor de Katie é muito branca, e a da Senhorita Cook é muito morena. Os dedos de Katie são muito mais longos que os da Srta. Cook, e seu rosto é também maior. Na maneira de se exprimirem há também notáveis diferenças. Para apreciar o valor dessas diferenças é bom lembrar-nos de que, em centenas de casos de desdobramento de vivos, que se têm verificado sempre e por toda parte, observa-se que o ser exteriorizado é a reprodução absoluta do corpo físico do agente. É esta uma regra que, pelo menos que eu saiba, não sofre exceção. Quando se obtém impressões ou moldagens do duplo de um vivo, quer com Eglinton, quer com Eusápia, é uma cópia anatômica do corpo real o que a moldagem apresenta. Os menores detalhes do membro fluídico são visíveis. As saliências produzidas pelos músculos, as veias ou os ossos, os desenhos epidérmicos, tudo aparece como se houvesse operado in anima vili. Não se pode, pois, cientificamente, em razão das divergências assinaladas, ver no fantasma de Katie o duplo da Srta. Cook, e, até prova em contrário, acreditarei que se trata de duas pessoas distintas. Vejamos, ainda, outras divergências. Quanto à estatura, pôde Crookes, por um processo engenhoso, convencer-se de que eram exatas suas apreciações anteriores (22) Uma das fotografias mais interessantes é aquela em que eu estou em pé ao lado de Katie; ela tem um pé nu sobre determinado ponto do assoalho. Vesti, em seguida, a Srta. Cook como Katie; ela e eu nos colocamos, exatamente, na mesma posição, e fomos fotografados pelas mesmas objetivas, postas absolutamente como na outra experiência, e iluminadas pela mesma luz. Colocado um desenho sobre o outro, viu-se que as minhas duas fotografias coincidem perfeitamente quanto à estatura e ao mais! Katie, porém, é maior que a Srta. Cook, de metade da cabeça e, ao pé desta, parece uma moça corpulenta. Em muitas provas, o tamanho do. rosto e a grossura do corpo diferem essencialmente da sua médium; as fotografias fazem ainda ver muitos pontos de dessemelhança. A fotografia, entretanto, é tão impotente para pintar a beleza perfeita do rosto de Katie, como o são as palavras no descrever o encanto dos seus modos. Pode, é verdade, mostrar o desenho de sua atitude, mas como poderia reproduzir a pureza brilhante de sua cor ou a expressão constantemente variável de seus traços, ora velados de tristeza, quando contava algum acontecimento amargo de sua vida passada, ora sorridentes, com toda a inocência de uma jovem, quando reunia meus filhos em torno de si, e lhes narrava os episódios de suas aventuras na índia? A aparição afirma que viveu outrora, por conseguinte, que é morta, e, em uma palavra, que é um Espírito. Por que duvidar? Ah! - respondem certos cépticos como Flournoy - não nos deixemos levar pelas aparências. Katie pode, perfeitamente, não ser mais que uma personagem subconsciente da Srta. Cook, um tipo ideal que ela cria e exterioriza, transfigurando seu duplo. A falar verdade, parece que os melhores críticos, ao tratarem das manifestações espíritas - (com o devido respeito) -, perdem a tramontana. Seria preciso estabelecer, primeiro, que a transfiguração é um fenômeno resultante da vontade do médium, coisa que nunca se provou. Porque o espírito seja capaz de agir sobre a força psíquica, para lhe dar as aparências de realidade, não se concluí que ele se pode modificar a si próprio. Um escultor consegue manejar, à vontade, a argila com que fabrica homens ou animais, mas, creio eu, não pensará nunca que essa faculdade lhe permita modificar a forma do próprio nariz. É, pois, uma objeção injustificável aquela que vê no médium o autor, consciente ou não, do fantasma. Essa interpretação mostra seu caráter fantasista, quando examinamos a questão mais a fundo. Seria preciso dotar o médium de um poder criador inigualável, de uma potência de geração espontânea verdadeiramente miraculosa, para que produzisse, instantaneamente, um individuo que, de forma tão profunda, difere de si próprio, sob o ponto de vista fisiológico. Vamos às provas, sempre tomadas a Crookes (23) Eu vi tão bem Katie King, recentemente, quando estava iluminada pela luz elétrica, que me é possível acrescentar alguns traços às diferenças que, em precedente artigo, estabeleci entre ela e sua médium. Tenho a mais absoluta certeza de que a Srta. Cook e Katie são duas individualidades distintas, pelo menos no que lhes concerne aos corpos. Muitos pequenos sinais, que se encontram no rosto da Srta. Cook, não se vêem no de Katie. Os cabelos da Srta. Cook são de um castanho tão escuro que parecem quase preto; um anel dos de Katie, que tenho diante dos olhos, e que ela me permitiu cortasse do meio de suas luxuriantes tranças, depois de o ter seguido com meus dedos até o alto de sua cabeça e me haver assegurado que ele ai tinha nascido, é de um rico castanho-dourado. (24) Por mais inverossímeis que possam parecer tais fenômenos, são, entretanto, reais, porque, apesar de sua repugnância instintiva, o Prof. Richet, depois de haver verificado fenômenos Idênticos, foi obrigado a escrever, cinqüenta anos depois de William Crookes (25) : Os espíritas me têm censurado duramente essa palavra - absurdo, e não puderam compreender que eu não me resignasse a aceitar, sem constrangimento, a realidade de tais fenômenos. Mas, para conseguir que um fisiologista, um físico, um químico admitam que saia do corpo humano uma forma que possui circulação, calor próprio e músculos, que exala ácido carbônico, que pesa, que fala, que pensa, é preciso pedir-lhe um esforço intelectual, verdadeiramente muito doloroso. Sim, é absurdo, mas pouco importa, é verdade. Assim, voltando a William Crookes, a aparição possuiu coração e pulmões! Estes têm um mecanismo fisiológico que difere do da Srta. Cook, e, sem fazer nenhuma suposição, de vê deduzir o que daí decorre naturalmente: que se trata de dois organismos diferentes, estando um são e outro enfermo. Pergunto, com toda a sinceridade, onde se acha o verdadeiro espírito científico? Será com os que inventam as mais fantásticas hipóteses ou com os que jamais vão além do que lhes permite verificar a mais rigorosa observação? Parece-me que a resposta não é duvidosa. É mil vezes mais inverossímil imaginar que Katie é uma criação da Srta. Cook, do que acreditar que ela é o que ela mesmo diz ser, isto é, um Espírito. Verifiquei, eu próprio, em presença do Prof. Richet, que o fantasma de Bien Boa exalava ácido carbônico, pois que, soprando em um balão com uma solução de barita, produziu-se, diante de nossos olhos, um precipitado de carbonato de barita. Se fossem necessárias outras provas da independência do fantasma, achá-las-íamos nas conversas que Florence Cook mantinha com Katie, durante os últimos tempos de sua mediunidade e no dia de sua última sessão. A menos que tenhamos que sustentar absurdos evidentes, como, por exemplo, que se possa ser, ao mesmo tempo, consciente e inconsciente, e estar, simultaneamente, no próprio corpo e em outro, com idéias inteiramente diversas e com um caráter oposto ao que se possui, o final do relatório de Crookes demonstra, com a mais poderosa evidência, que Katie era uma individualidade distinta da médium e dos assistentes. Ouçamos a narrativa comovedora da última entrevista do Espírito com a médium (26) Tendo terminado suas instruções, disse Crookes, Katie me fez entrar consigo no gabinete e me permitiu que aí ficasse até o fim. Depois de haver fechado a cortina, conversou comigo durante algum tempo ainda; depois atravessou o aposento para ir até onde a Srta. Cook jazia inanimada no assoalho. Inclinando-se sobre ela, Katie tocou-a e lhe disse: Acorde, Florence. É preciso que eu a deixe agora. A Srta. Cook acordou e, banhada em lágrimas, suplicou a Katie que ficasse ainda algum tempo. - Não o posso, minha cara; está terminada minha missão; que Deus a abençoe – respondeu: Katie - e continuou a falar à Srta. Cook. Durante alguns minutos, conversaram juntas, até que as lágrimas da Srta. Cook a impediram de falar. Seguindo as instruções de Katie, corri para amparar a Senhorita Cook, que ia cair, e que soluçava convulsivamente. Olhei em torno, mas Katie e suas vestes brancas tinham desaparecido. Logo que a Srta. Cook se acalmou, trouxeram luzes e eu a conduzi para fora do gabinete. Não esqueçamos que é um membro da Sociedade Real, um dos maiores sábios de nossa época, quem tais coisas afirma. Se eu o venho citando, é para não ter que batalhar, preliminarmente, a fim de estabelecer a autenticidade do testemunho. Mas existem outros que são, de igual maneira, demonstrativos. A falta de espaço impede-me de dar a este estudo todo o desenvolvimento que ele comporta, mas envio o leitor ao tomo II de As Aparições Materializadas dos Vivos e dos Mortos, onde estão expostas e comentadas as numerosas experiências que se realizaram neste país. Lá, poder-se-á ver que as aparições materializadas de Espíritos de defuntos são seres autônomos, que possuem cérebro, pulmões, músculos, nervos e inteligência diferentes do médium, e, apesar; de desencarnados, têm ainda um mecanismo fisiológico terrestre. |